quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

taylo

ERA UMA VEZ...Parte II

Para o meu jardineiro fiel...

Quem poderia prever as suspresas reservadas para ela?
Quem sabe o "oráculo google", ou a "melhor amiga: bola de cristal", quem sabe sua velha e repetitiva mãe "tenha cuidado com os rapazes Claire!"...
Não. Nenhum deles com suas frases clichês e repetidas à exaustão poderia prever.
Algumas semanas passaram...
Claire o via entrar todos os dias, sempre como um raio solar, iluminando e trazendo vida àquela realiadade desprovida de graça, sem perpectivas.
Ela sentia-se caindo, caindo cada vez mais... o velho poço esperava por ela como uma imensa boca rindo do sofrimento alheio e esperando a refeição ser lançada nele. Afinal, eram velhos conhecidos, desde seu amor platônico do inverno passado...o poço deve ter dado boas risadas dela. A garota boba que nem conseguiu dizer "Eu te amo"...Que amava um fantasma, alguém idealizado. Mas, o que tinha de criminoso e idiota nisso?!
Tudo bem, criminoso é muito exagero, mas...idiota cai bem, se cai...
Você podia ter falado, mas teve medo de parecer idiota e acabou sendo idiota! - Ela refletiu.
Com uma careta de insastifação pessoal ela espantou aquele raciocínio estúpido e nada útil ali, afinal, a professora já estava olhando para ela com cara de "poucos amigos" e suas notas haviam despencado como um elevador velho...
Opa! Elevador despencando trouxe a imagem do...do poço! Poço de novo?! Vá embora!
A aula passou e ela conseguiu se concentrar. O sinal tocou.
O pátio externo não era muito mais consolador e agradável que a sala de aula cheia de estranhos.
Claire refugiou-se no lugar mais parecido com o que ela era: a biblioteca. Se bem que Claire se assemelhasse mais a um museu antigo...Rico em sabedoria e estórias, porém pobre em experiência vivida. Havia idéias mirabolantes, fantasia, páginas e mais páginas de sonhos e planos de um amor eterno e forte, cultura, mas isso tudo ficara gongelado desde que seu pequeno e confuso coração fora partido por...
Sentada na última mesa, ela abriu um romance e devorou algumas páginas.
A cena repetiu-se por três semanas.
Depois da terceira semana, o "Raio de Sol" - o garoto que iluminava sua confusão mental no primeiro dia no novo colégio - surgiu e, por mais estranho que pareça, ele aproximou-se e sentou-se com ela.
Mas o sofrimento anterior era tão grande ainda no peito dela que aquilo parecia algo pequenino e sem impacto na monotonia que havia se tornado os dias desde que mudou-se para o novo lugar.
Contudo, assim que ele aproximou-se e disse seu nome, Claire sentiu algo estranho, um misto de acolhida e amizade, só que diferente.
Era visível que aquele era o garoto mais desejado do lugar. O jeito que ele falava e sorria, o jeito que mexia no cabelo, parecia uma máquina programada para fazer suspirar! (Por que estes garotos existem? Urgh!). Pior! Ele SABIA que era poderoso.
Como em um romance cuidadosamente escrito, ele parecia - impossivelmente - dizer e calar sempre na hora certa.
Ele definitivamente era perigoso. (Calma! Não é o que vocês estão pensando...rsrsrs Nada de vampiros ou lobisomens para nossa pobre Claire, afinal, humanos já têm seu próprio potencial de perigo...).
Os dias se passavam e aquela recente e improvável A-M-I-Z-A-D-E tomava forma e cor.
Eram como Sherloke Holmes e o seu fiel companheiro Watson! rsrsrs Unidos para desvendar mistérios. Mas de quais mistérios eles buscavam a solução?
Não, ele não aproximou-se por descuido ou casualidade da nossagarotinha do coração partido. (Lamento informar, mas sempre há um começo e um MOTIVO, apesar de nem sempre sabermos ou entendermos as razões, chamem isso de DESTINO, é como eu prefiro chamar).
Ele parecia sofrer, por baixo daquela casca de... ("Zac Efron sem a Vanessa Hudgens?)...
Sofro mais prefiro não comentar muito, só me empresta seu ombro amigo, tá bem? Este era o estilo dele. Ele falava, desabafava, sempre deixando alguma pergunta sem resposta.
Claire ouvia e tentava ajudar, afinal, o que mais ela tinha a fazer ali? Pelo menos ele a fazia sentir-se bem; ajudar fazia com que ela esquecesse a própria dor e solidão.
Claire amava Shakespeare (tudo bem que isso era algo que ela compartilhava com o seu "amor platônico" e era uma maneira de mantê-lo "vivo" e ao lado dela, ainda que isso a fizesse sofrer e lembrar, Shakespeare merecia ser lembrado, mesmo que trazendo lembranças indesejáveis às vezes...).
Estava sentada no lugar de sempre, no horário de sempre e já podia ver seu "novo amigo" entrando pela porta principal da Biblioteca...Ela estava com um trecho de Rei Lear nas mãos: "E riremos juntos de borboletas variegadas...". . Era algo assim, como ser uma borboleta dourada. Ahh...Claire sabia bem como era ser variegada...Uma espécie de borboleta rara e dourada, muito bela e admirada. Contudo, por seu peso e aerodinâmica, estas borboletas não conseguem voar...Elas enfeitam, provocam olhares e cobiça e todos se admiram da sua rara beleza, mas voar? Não, elas não podem desfrutar do céu, não são como as outras e suas "amigas de jardim" riem dela "Coitada, tão bela e admirável, mas não voa conosco, vive a esperar, vive a ser solitária e em 24hs ela partirá...".
Isso Claire sabia bem, ser diferente e sozinha.
Seu novo amigo - ainda improvável, entretanto fiel e já querido - veio e sentou-se ao seu lado, observando o treço de Shakespeare em suas mãos trêmulas. Ele sorriu.
- Claire, quer saber uma coisa? Sou como um jardineiro que planta um jardim e espera que as borboletas venham visitá-lo. Mas eu sei qual a borboleta que desejo que pouse e permaneça nele para sempre...Ela é linda, colorida e suas asas batem num frisson instável que me deixa louco! - Ele disse e sorriu amarelo - lembrando da menina que o enfeitiçou.
Claire sentiu a tristeza que havia ali e pensou: "Ele semeia e cuida do jardim desejando que uma só borboleta venha beijar suas flores; eu sou uma borboleta dourada, que posso vir beijar-lhe as rosas, as hortências, mas, se um dia vier, nunca mais poderei ir-me, pois não posso voar. Uma vez escolhido meu jardim e meu jardineiro, serei parte da paisagem eternamente."
Claire sentiu MEDO.
Depois de todos estes meses, ajudando, sendo ajudada, confidenciando, rindo e chorando com ele (tudo bem, me rendo, ela mais falou que ouviu...rsrsrs) ela percebeu o perigo!


Como pequenos e, aparentemente simples, gestos e palavras podem realmente mudar destinos - ela pensa consigo enquanto o vampiro afasta com delicadeza sua franja repicada e clara... (Ué? vampiro? Calma outra vez, é só uma expressão, maneira de falar, já que todos nos sugam mesmo, uma hora eles vão te sugar, menina, cuidado!).A lua emitindo sua luz prata que faziam os repiques da franja brilharem e ela os observa...
Como o brilho nos atrai, como é fácil ser atraído pela beleza, pela força, pela inteligência. Difícil mesmo é manter-se forte, mesmo quando seu corpo emite sinais que deve ser egoísta e fugir antes que não haja mais fuga possível.
Mas...O verdadeiro amor espera...uma vez mais.
Voa! Voa minha ave - borboleta variegada ou multicor - vai por entre o céu e as nuvens, descobre e desperta o que desejas, supre teu peito com algo que sempre teve mas nunca pôdes ver de verdade...
Eu não sou tua borboleta atraída pelo jardim como um inseto bobo pela luz; sou apenas mais uma flor que tu mesmo plantaste, como tuas mãos na terra, na hora da dor e da solidão, não vim a ele para alimentar-me das flores que aqui estão, sou alimento, sou eu que alimentei tuas tão desejadas borboletas!
Sabes como? Alegrando ao coração do jardineiro, meu jardineiro fiel.
Sou como a rosa que espera por seu doce e confuso pequeno príncipe, a rosa sempre te esperará, meu senhor....eternamente.
Disse o que meu coração não queria permitir, mas ainda assim Ele sabia, deu-me um presente, fez-me sentir como no passado, muito mais do que minha razão esperava...Surpreendeu-me, arrebatou-me.
Uma vez mais eu SENTI.
Quando eu TE VI, meu mundo amanhaceu...Eu consegui novamente sonhar, como pensei que jamais conseguiria.
Ainda que não venhas regar-me, cuidar-me ou entender-me, ainda que diante das adversidades eu sofra, murche e seque.
Minhas pétalas secas voarão com o soprar do vento e minhas folhas e sementes semearão mais uma vez...
E então serei novamente livre, livre para renascer.
E estarei em algum jardim, entre as flores...Para quem sabe alegrar a outro jardineiro...ou para por tuas mãos ser novamente cultivada e colhida.


De súbito, Claire ergueu seu corpo, voando da cadeira e correndo, correndo...Os segundos de alucinação haviam parado e ela precisava agir! Antes...antes que fosse tarde!
Ela não parou, não olhou para trás por sobre o ombro para ver a face do seu amigo (devia estar atônito e pálido), ela só sabia que tinha que ir...ir para algum lugar onde o amor não a encontrasse novamente.



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